O Governo de Moçambique tem contraído empréstimos à China apesar de haver credores internacionais mais baratos, e tem feito “más escolhas” relativamente às grandes obras públicas, escreve a Economist Intelligence Unit (EIU) no relatório deste mês sobre o país.
De acordo com o ‘Country Report’ de Setembro, “apesar de as grandes carências em infra-estruturas impedirem o país de realizar completamente o seu potencial, as autoridades fizeram um conjunto de más escolhas em investimentos nos últimos anos, com alguns projectos financiados por empréstimos a parecerem mais terem sido feitos por uma questão de prestígio do que para cumprirem objectivos de redução da pobreza ou de planeamento nacional”.
Um exemplo dado pela unidade de análise económica da revista britânica The Economist é a utilização de “um projecto de 700 milhões de dólares para construir uma ponte do centro de Maputo até ao pouco povoado bairro de Catembe”.
As críticas da EIU não se ficam por aqui, e alargam-se também à relação com a China, que tem funcionado como um dos grandes financiadores de Moçambique, apesar de praticar taxas de juro mais elevadas que outros potenciais credores internacionais, como o Fundo Monetário Internacional ou o Banco Mundial.
“Os empréstimos da China a Moçambique são maioritariamente em termos concessionais (taxas de juro mais baixas que as praticadas pela banca comercial), mas com taxas de juro mais elevadas e maturidades mais curtas, e continuam menos atrativas que o que está disponível por emprestadores multilaterais como o Banco Mundial”, lê-se no relatório que nota também que a China já emprestou a Moçambique cerca de 1,4 mil milhões de dólares para financiar 11 projectos de infra-estruturas.
Para a EIU, estes valores confirmam “as fortes relações entre os dois países e a crescente proeminência da China como credor do Estado moçambicano”.
Citando dados do Ministério das Finanças de Moçambique, os analistas do braço académico da Economist dizem que “a China é o terceiro maior credor de Moçambique, com uma dúvida de 672 milhões de dólares, quase o mesmo que os 673 milhões do Banco de Desenvolvimento Africano, mas bem abaixo do Banco Mundial – 2,2 mil milhões de dólares”.
No ano passado, a China disponibilizou mais 489 milhões de dólares, e o Banco Mundial 504, num contexto em que “poucos detalhes foram dados, o que torna difícil aferir como é que estes empréstimos potenciais poderiam afectar o desempenho económico e a sustentabilidade da dívida pública”, e é por isso, concluem, que “o FMI tem cada vez mais pedido prudência na aquisição de dívida e sublinhado a necessidade de garantir que os projectos são cuidadosamente seleccionados”.